Público acompanha debate com dirigentes e gestores da pesquisa nacional durante 8ª Edição do Encontro de Pós e Pesquisa da Faculdade
Nos dias 11 e 12 de novembro, a Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira, sediou a 8ª edição do Encontro Integrado de Pós-Graduação e Pesquisa, evento consolidado no calendário acadêmico da insituição e que promove a interação e o diálogo científico entre estudantes, professores, pesquisadores de diversas áreas de conhecimento e comunidade externa.
Este ano, o evento trouxe para o campus dirigentes e gestores da pesquisa nacional para participar da mesa “Moldando o futuro: o papel das agências de fomento no avanço das pesquisas no Brasil”. Em conversa com o público, representantes da FAPESP, CNPq, Finep, Instituto Serrapilheira e da própria Unicamp compartilharam perspectivas sobre sobre o papel das agências de fomento na construção de um ambiente de pesquisa mais colaborativo e de maior alcance social, os desafios no apoio a projetos inovadores e as estratégias para fortalecer a ciência brasileira em um cenário de mudanças globais.
O debate foi mediado por Antônio José Roque da Silva, Diretor Geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e contou com as participações de Concepta Margaret McManus Pimentel (Gerente de Colaborações em Pesquisa da FAPESP); Cristina Caldas (Diretora Científica do Instituto Serrapilheira); Olival Freire Junior (Diretor Científico do CNPq); Benedito Fonseca e Souza Adeodato (Assessor da Diretoria de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da FINEP) e Ana Maria Frattini Fileti Brasil (Pró-Reitora de Pesquisa da Unicamp).
Em sua fala inicial, Pimentel lembrou que cerca de 95% da pesquisa no Brasil é realizado na pós-graduação e que falar sobre o futuro da pesquisa é falar sobre a necessidade de recursos suficientes e sustentáveis no longo prazo. Caldas, do Instituto Serrapilheira, instituição privada de apoio à ciência com orçamento anual entre R$ 20 a 30 milhões, explicou que o objetivo da instituição é apoiar a boa ciência brasileira, especialmente jovens cientistas que estão iniciando suas carreiras e montando equipes. “O recurso privado nos dá flexibilidade para apoiar pesquisas originais e ousadas, com a possibilidade de ajustar rotas quando necessário. Recentemente, lançamos uma terceira chamada para pós-doutorandos ecólogos negros e indígenas, visando aumentar a diversidade na ciência, que ainda é majoritariamente branca. As cotas têm ajudado, mas sabemos que há um longo caminho a percorrer."
Também em sua fala inicial, o Diretor Científico do CNPq, Olival Freire Junior fez um resgate histórico sobre a formação do sistema de ciência e tecnologia no Brasil, lembrando que o país passou por períodos difíceis, como a década de 90, marcada por escassos investimentos, e também por momentos complexos, como a ditadura militar. “Apesar de receber investimentos significativos na época, muitas lideranças científicas foram exiladas ou aposentadas compulsoriamente. Esse passado autoritário ainda nos ronda, como vimos recentemente no caso do atual presidente do CNPq, Prof. Ricardo Galvão, demitido, no governo passado, por resistir a pressões para distorcer dados ambientais. Esse flerte com o passado está sempre presente, e precisamos nos manter vigilantes."
Na sequência, Benedito Fonseca, Assessor da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), igualmente destacou as dificuldades enfrentadas pelo país para manter os investimentos em ciência e tecnologia através da manutenção e proteção do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT, fundo público gerido pela FINEP). “Nos anos 2000, desenvolvemos os Fundos Setoriais com a colaboração de especialistas, como o Professor Sérgio Salles da Unicamp, pensando que teríamos solucionado o financiamento científico. Porém, os recursos foram novamente contingenciados e bloqueados, e o FNDCT perdeu capacidade de cumprir seu papel. Conseguimos reestruturá-lo como um fundo financeiro e contábil, permitindo retenção de recursos, mas ainda enfrentamos desafios. Atualmente, por exemplo, nossas verbas estão sendo requisitadas para áreas que não se relacionam diretamente com ciência e tecnologia, o que exige cautela para garantir que continuemos a investir no desenvolvimento científico do país."
Já Ana Maria Frattini Fileti Brasil, Pró-Reitora de Pesquisa da Unicamp, enfatizou a importância das agências de fomento brasileiras como aliadas para o desenvolvimento das pesquisas básicas e aplicadas nas universidades públicas. Ela ressaltou a necessidade premente das tecnologias desenvolvidas pela comunidade científica chegarem cada vez mais ao mercado através do empreendedorismo e inovação, lembrando que o PIB brasileiro já teve 30% de sua composição pela indústria, sendo que hoje esse número caiu para menos de 12%. “Em um momento crítico recente, quando o atual governo paulista tentou reduzir o financiamento das universidades estaduais e da FAPESP, houve uma forte mobilização das universidades e também de empresários da FIESP. Isso mostra o amadurecimento do nosso sistema de Ciência e Tecnologia, criado nos anos 70. É fundamental continuar investindo em pesquisa básica, pois ela gera a inovação futura. Contudo, precisamos também pensar na pesquisa aplicada, que deve chegar ao mercado através da inovação. A FAPESP, por exemplo, é um grande investidor nesse campo, apoiando startups e ajudando nossos pós-graduandos a transformar suas pesquisas em iniciativas empresariais. Somente ao estimular o empreendedorismo como opção de carreira é que conseguiremos alcançar uma maior autonomia tecnológica para o Brasil”.
O debate que se seguiu às falas iniciais foi acompanhado também por público online e ficou gravado no canal da Faculdade no YouTube neste link (a partir de 2:10:21)
Ao promover eventos, encontros e debates como estes, a Faculdade de Ciências Aplicadas contribui para a interiorização da pesquisa científica da Unicamp e descentralização do ensino superior de qualidade no Brasil, favorecendo a criação de pólos regionais de conhecimento que enriquecem o desenvolvimento científico e social do país.
Professores organizadores e dirigentes de agências de fomento em momentos de encontro durante o evento no campus