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                                                                                                      Prof. Lucas Leonardo, da Universidade Federal do Amazonas, autor da tese
 
Texto / Bárbara Fernandes
Edição / Cristiane Kämpf
Foto / Cristiane Kämpf
 

        É necessário valorizar a cultura nacional e o papel singular do jogador durante a prática esportiva para estimular a criatividade do atleta e não limitar sua atuação em campo ao simples cumprimento de regras do jogo. É o que defendem especialistas em pedagogia do esporte da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Unicamp em artigo publicado em julho deste ano no periódico Movimento, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

       O trabalho, fruto de tese de doutorado desenvolvida no Laboratório de Pedagogia do Esporte (LEPE, Unicamp), critica os modelos de ensino-aprendizagem com forte influência europeia normalmente utilizados por treinadores, analisando os conceitos do “jogar” e “esportear” dentro das práticas coletivas. Lucas Leonardo, da UFAM, autor do trabalho, e Alcides Scaglia, orientador da pesquisa e especialista em Pedagogia do Movimento, exploram conceitos filosóficos do ato de “jogar” do ponto de vista ético e do "esportear" do ponto de vista moral.

Lucas explica que 'esportear' nada mais é que praticar o esporte com obediência cega às regras do jogo, propostas por uma organização ou um processo que civilizam e racionalizam o esporte e o jogo. É um entendimento do jogo o qual universaliza e normatiza certos padrões. “Busca-se ‘encaixotar’ o jogo a partir de determinadas regras universais. Esportear é a atitude do jogador frente à regra, obedecendo-a”. 

Essa ideia impõe uma esfera moral individual e auto-suficiente da prática, que institui ao jogador a obediência à regra para poder participar da prática. Segundo o autor, "o jogador precisa se inserir nos limites que a regra propõe para poder jogar e por isso ocorre uma despersonalização de todos os jogadores, que assim acabam se uniformizando dentro dessa prática por obedecerem essas regras”.

Já o jogo é visto pelos pesquisadores como um fenômeno maior, ligado a uma perspectiva ética do desejo do jogador pelo ato de fazer esporte, porém antecede a vontade de jogar de forma moral - de acordo com as regras. 

Os cientistas afirmam que é necessário criar uma prioridade no sentido de jogar sob o esportear tendo em vista que o último aborda sentimentos éticos gerados pela aceitação das regras simplesmente pois elas tornam o jogo possível. “Na nossa perspectiva, que é latino-americana, brasileira, e pautada na educação da rua e na pedagogia da rua, entendemos que há uma continuidade entre jogar e praticar esportes” afirma Lucas.

Alcides comenta que a perspectiva do esportear impõe ao jogador uma adaptação por meio de sua atitude ao esporte, enquanto a primazia do ‘jogar’ respeita a forma como o jogador joga, fazendo com que  o jogo tenha de se adaptar ao jogador e não ao esporte. 

Ainda de acordo com o docente da Faculdade de Ciências Aplicadas, a ideia de que há uma regra estabelecida que todos devem seguir podendo haver punições para quem a contraria, muitas vezes impõe ao jovem jogador(a) uma perspectiva de que ele(a) não tem potencial para apreciar as atividades em torno do jogo. 

“O que nós estamos fazendo é expulsar essas crianças da prática esportiva, porque o desejo, aquilo que é o jogar, que é a primazia da ética do meu querer, é violentado pelo dever e pela imposição de seguir a regra por meio de uma ação de esportear. E assim, obviamente, o que vai acontecer é que esses jovens vão embora” crítica Alcides.

O docente ainda diz que as atitudes que contrariam a regra precisam ser entendidas pelos treinadores de acordo com suas fontes, sejam as advindas do amor à si, ou da resistência aos impasses promovidos pelas regras. "Há uma necessidade de se valorizar o jogador no processo e não apenas os ditames do professor e do treinador, o jogador não é apenas um robô na mão do treinador", conclui Alcides. 

Lucas também fala sobre a importância de reconhecer e considerar a opinião dos jogadores. “Eu, como pedagogo, valorizo o confronto e a resistência do aluno a minha prática pedagógica antes de considerar isso uma atitude imoral e inadequada. Para mim, este é o caminho educacional” diz Lucas.

Para Alcides, o ponto central do artigo e sua inovação perante as demais pesquisas da área é a abordagem e discussão dos conceitos ‘jogar’ e ‘esportear’, a qual pode incentivar treinadores e pedagogos em geral a criar propostas didáticas e metodológicas pautadas em um ambiente mais libertador e democrático para o jogador durante as práticas esportivas. 

 
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                                                                                         Professor Alcides Scaglia, especialista em Pedagogia do Esporte e coordenador do LEPE Unicamp