Prof. Leonardo Tomazeli Duarte (à dir.) e Prof. Christian Jutten (Gipsa-lab, Université de Grenoble Alpes, França). O Prof. Jutten foi orientador do doutorado do Prof. Leonardo na França e passou uma semana na Faculdade em abril, quando também palestrou para os alunos do Programa de Engenharia de Produção e de Manufatura. “Desde o meu doutorado, mantivemos a cooperação na pesquisa. Recentemente, O Prof. Jutten coordenou um grande projeto de pesquisa financiado pelo European Research Council (ERC). O trabalho dele é reconhecido mundialmente – ele é um dos pioneiros de um problema conhecido como separação de fontes , da área de processamento de sinais e aprendizado de máquina”, explicou Tomazeli.
*Por Leonardo Tomazeli Duarte, docente das Engenharias
O ensino em engenharia sempre contou com um forte componente “enciclopédico”, caracterizado pela abordagem de temas específicos como o detalhamento de fórmulas e regras para aplicação prática em projetos, e a interpretação e utilização de cartas, diagramas e tabelas. Um dos resquícios desse caráter conteudista é o elevado número de créditos destinados às tradicionais aulas em sala. Ainda que as melhores escolas de engenharia do país já estejam atentas a esses problemas há algum tempo, ainda não conseguimos chegar a um currículo mais dinâmico, no qual há uma maior ênfase às habilidades fundamentais para a atuação do engenheiro no século XXI, seja para execução da boa engenharia no dia-a-dia, ou para o desenvolvimento de novas soluções científicas/tecnológicos, tarefa na qual o engenheiro sempre se destacou.
E quais seriam essas habilidades para o engenheiro do século XXI? Evidentemente, a resposta a esta pergunta não é trivial, pois, dentre outras dificuldades, depende de algumas especificidades das sub-áreas da engenharia. Ainda assim, cito algumas iniciativas (todas elas em curso na FCA) que devem estar cada vez mais presentes na formação de um engenheiro. Um primeiro aspecto a ser destacado é a intensificação do contato do estudante de engenharia com o “mundo real”. Essa interação deve ocorrer desde o início da formação do aluno e deve se dar por diferentes vias, tais como voluntariado em organizações estudantis, TCCs na indústria, iniciação científica, e desenvolvimento de projetos práticos ao longo do curso.
Um segundo ponto importante é reforçar as aptidões analíticas e quantitativas dos estudantes da engenharia. Um vetor importante nesse sentido se encontra nas disciplinas de ciências básicas da engenharia, como a matemática e a física. Esses cursos devem estar alinhados com a atuação do engenheiro e mostrar, desde o início da formação, que tais aptidões são essenciais no desenvolvimento tecnológico atual. Além disso, com a crescente automatização de processos industriais, fomentada sobretudo pela inteligência artificial, a computação entra definitivamente no rol das ciências básicas da engenharia e deve estar presente ao longo de toda a formação do engenheiro.
Finalmente, e não menos importante, o engenheiro do século XXI deverá ter habilidades sociais cada vez mais apuradas. É fundamental hoje para um estudante de engenharia ter contato com iniciativas que pratiquem o exercício do trabalho em equipe e que introduzam competências da área de gestão, como a gestão de projetos. Ademais, o aluno de engenharia deve ter uma formação humanística plena, que o torna capaz de compreender os impactos da tecnologia na sociedade, e as questões filosóficas e econômicas que cada vez mais estão vinculadas ao desenvolvimento tecnológico.
*Leonardo Tomazeli Duarte é membro do Laboratório de Análise de Dados e Apoio à Decisão (LAD2) do Centro de Pesquisa Operacional (CPO) da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp. Em 2016, foi professor visitante na École de Génie Industriel do grupo Grenoble INP (Grenoble, França). Recebeu da Unicamp, em 2017, o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico "Zeferino Vaz".
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