Por abismos... casas... mundos...: a geosofia como narrativa fenomenológica da geografia
Carlos Eduardo Pontes Galvão Filho
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências
Orientador: Eduardo José Marandola Junior
É a partir de pensar origens que segue este trabalho em direção à pergunta pelo conhecimento geográfico emergido da geograficidade. Orientada pela fenomenologia, tal pergunta é investigada tendo o ato de viajar enquanto fio condutor. Preocupado com o como a Terra aparece ao homem, pergunta-se pelo ato de viajar enquanto experiência que afeta o modo desse como encontrar a Terra. Tal como parece ser carregado de uma história geográfica própria a cada homem, e narrar tal história parece emergir enquanto necessário para aproximar-se da própria condição terrestre. Busca-se, no caminho aqui percorrido, cultivar o caráter geográfico da existência a partir de um sentido geográfico para o viajar: viagem enquanto ato de criar geosofias. Uma das origens deste presente trabalho advém da experiência de uma viagem à Ilha do Cardoso (SP), mais precisamente de uma caminhada no mangue. Cultivada, narrar tal experiência fez irromper da lama a presente obra. Obra que tem na tríade geograficidade-viajar-geosofia sua estrutura tal qual o mangue tem suas raízes-caule-folhas e flores. A caminhada no mangue é aqui compreendida enquanto experiência de vertigem geográfica, e o sentido para tal experienciar é o de fazer rebentar novas referências de mundo. Cultivar os sentidos dessa experiência e se esforçar para narrá-los, enquanto ato de nomear o irromper de mundos, é a necessidade que move esta dissertação. O sentido de viajar adquire, com isso, um caráter de jornada voltado à condição terrestre: uma jornada em direção a geografias correspondentes. Tal jornada pode evocar, nesse sentido, uma resistência àquilo que fora denominado esquecimento do ser. Resistência que pode ser pensada enquanto anti-esquecimento do ser, se cultivadas as experiências marcantes da existência. Para tanto, compreende-se a palavra história não enquanto aquilo que já passou, mas enquanto um originar-se a partir de tal passado. Orientação em relação ao mundo, a geosofia enquanto constituída de vínculos geográficos, estes intensamente afetados por acontecimentos geopoéticos, acontecimentos que parecem trazer um frescor para o como se vê a Terra e renovar a história geográfica de cada homem. Um exemplo de acontecimento geopoético é o abismar toponímico, experiência na qual se compreende a origem de um nome: o nomear enquanto ato de desvelar um mundo vivido geograficamente. Encarando o viajar enquanto possibilidade para reconhecer-se na condição de ser-no-mundo é que irrompe um parto geográfico, uma experiência de paisagem presentificada fundadora de referências geosóficas, florescidas de pontos cordiais. Caminha-se, portanto, exalando uma geografia à flor da pele, numa viagem sem escalas na qual encontram-se caminhos incógnitos, verdadeiros sopros de um mundo pensado poeticamente
Palavras chaves: Geografia humana, Imaginário, Viagens, Fenomenologia