Mobilidade Espacial dos Povos Indígenas
Integrantes:
Marta Maria do Amaral Azevedo;
José Maurício Arruti;
Bárbara Estanislau;
Rosa Colman.
Este estudo Temático dá continuidade aos estudos acerca da mobilidade Guarani no Estado de São Paulo, presente na fase 1 do Observatório das Migrações em São Paulo, ampliando os povos indígenas e contemplando também os grupos Pankararu e Pankararé.
Na segunda metade do século XIX os Guarani iniciam um processo migratório, que muito mais tarde ficou conhecido como ‘A busca da terra dos Sem Males’ na literatura histórico-antropológica. No início do sec. XX, Nimuendaju (1978) encontrou várias comunidades e acampamentos desses indígenas na região de Bauru, no interior de SP, e na região do litoral sul do estado. Hoje em dia existem cerca de 20 comunidades Guarani no estado de São Paulo, sendo que 4 delas na própria capital. Na fase 1 do Observatório, observou-se o fluxo migratório dos Guarani vindos do Paraguai e do norte da Argentina (Azevedo, Baeninger, 2013). Na fase 2 do projeto, se avançará sobre as articulações entre esses espaços migratórios e o contexto da migração Guarani no fluxo Mato Grosso do Sul -São Paulo.
Os grupos Pankararu e Pankarare estão presentes nos fluxos migratórios do Nordeste para São Paulo desde os anos 1930. Neste sentido, busca-se identificar e compreender a dinâmica e o significado desses movimentos migratórios, partindo da hipótese de que há especificidades importantes no caso dos Pankararu e Pankarare, ainda que os fluxos migratórios tenham sido captados entre espaços migratórios tradicionais, como trocas entre as regiões Sudeste e Nordeste do Brasil. Entre essas especificidades, observa-se a criação de um espaço de vida (Courgeau, 1974; Domenach e Picouet, 1996) na própria migração, explicado em partes pelas forças dos laços existentes entre os Pankararu em São Paulo e nas aldeias no interior pernambucano. Busca analisar a construção de um fluxo migratório a partir da perspectiva de espaços circulatórios (Tarrius, 1993), uma vez que as idas e vindas deste grupo configuram novos significados a cada etapa migratória, ao longo de seus ciclos de vida (Estanislau, 2014).
Assim, o objetivo deste estudo temático é contribuir também com o debate acerca dos movimentos migratórios dos povos indígenas e autodeclarados indígenas nos censos demográficos. A coleta de dados sobre populações indígenas foi, pela primeira vez, realizada pelo Censo Demográfico 2010 através do questionário do Universo, e não da amostra, permitindo captar a totalidade desses povos indígenas pela autodeclaração e suas especificidades. No caso dos Pankararu e Pankarare, os dados do Censo Demográfico de 2010 serão complementados com um censo dos grupos Pankararu e Pankarare em São Paulo, realizado pelo Observatório das Migrações em São Paulo.
Referências
AZEVEDO, M.; BAENINGER, R. (Org.). População indígena: mobilidade espacial. Campinas: Núcleo de Estudos de População - Nepo/Unicamp, 2013. (Por Dentro do Estado de São Paulo – Volume 8). Disponível em: <http://www.nepo.unicamp.br/publicacoes/_colecao.php>. Acesso em 10 de abril de 2016.
COURGEAU, D. Les premières migrations de Français dans la période contemporaine. Population (French Edition), 29e Année, Migrations, pp. 11-24, mar. 1974.
DOMENACH, H.; PICOUET, M. Las migraciones. Córdoba: Republica Argentina, 1996.
ESTANISLAU, B. A eterna volta: migração indígena e Pankararu no Brasil. Dissertação (mestrado em Demografia). Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas, 2014.
NIMUENDAJÚ, Curt. Los mitos de creación y destrucción del mundo como fundamentos de la religión de los Apapokuva-Guarani. Lima: Juergen Riester G. (Ed.) / Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Practica, 1978. Originalmente publicado na Zeitschrift für Ethnologie. Berlin, 1914, n. 46:284-403.
TARRIUS, A. Territoires circulatoires et espaces urbains: différenciation des groupes migrants. Annales de la Recherche Urbaine. no. 59-60, 1993.