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A partir das últimas décadas do século 20 as migrações internas no país assumem maior complexidade (Brito, 1997; Rigotti, 2012; Baeninger, 2013b; Cunha, 2012), em particular, pelas tendências, características e sentido das migrações para e do Estado de São Paulo. Se nos anos 1970 São Paulo foi o polo centrípeto das migrações nacionais (Martine e Camargo, 1984), nos anos 2000 o cenário nacional se modifica, de um lado, a partir da própria dinâmica do fenômeno migratório paulista; de outro lado, pelas novas forças da reestruturação produtiva em demais regiões brasileiras e o processo de redistribuição da população.

Apesar do decréscimo no volume de imigrantes na última década, isto não significa uma tendência à estagnação das migrações; ao contrário, denota outros arranjos da própria migração interna, bem como seus atuais desdobramentos, com novas modalidades de deslocamentos populacionais em âmbitos locais e regionais. São Paulo passou, por exemplo, a ter saldo migratório negativo com diferentes estados do Nordeste e com demais regiões do país. De fato, o movimento emigratório (saída de população do Estado de São Paulo) reflete a nova face do fenômeno paulista.

Nesse contexto de redefinição de áreas de retenção, perdas e rotatividade migratórias (entram migrantes e saem migrantes), redesenha-se a mobilidade espacial da população no Brasil. A tendência de perda migratória do Sudeste revela a consolidação dos espaços da migração no país, onde a complementaridade migratória - historicamente existente entre Nordeste-São Paulo – se redefine num cenário de rotatividade migratória (Baeninger, 2008; 2013).

Apesar das transformações econômicas e do desemprego metropolitano, São Paulo continua sendo o maior polo de recepção da migração, bem como o “coração da economia nacional”, no imaginário migratório, portanto, principalmente para os migrantes de áreas menos desenvolvidas, esta área continuará fazendo parte da geografia mental da população (Vainer, 1991).

Estudos Temáticos:

Migrações e Urbanização em São Paulo no século 21

Diferentemente do que ocorria nos anos 1960 e 1970, quando a relação entre migração, industrialização e urbanização era bastante, o processo imigratório recente em São Paulo apresenta natureza mais complexa, havendo a necessidade de se analisar sua dinâmica considerando-se o território paulista como um todo e, portanto, ampliando a importância do interior paulista na recepção migratória interna e internacional. Tal preocupação se justifica, ademais, em face da crescente complexidade do tecido urbano e produtivo presente no Interior do Estado, que tem aprofundado as relações socioeconômicas entre regiões.

Trabalhadores Rurais Migrantes, Agroindústria paulista, Mudanças Climáticas

No interior de São Paulo, o cenário atual da dinâmica socioeconômica e migratória contempla a importância da economia sucro-alcooleir. Assim, a linha temática aborda a origem e destino dos fluxos, bem como a inserção e trajetórias sociais dos “migrantes da cana” e “migrantes da laranja” no cenário da agroindústria paulista e sua expansão territorial e as mudanças climáticas.

Mobilidade Espacial dos Povos Indígenas

Nesse novo contexto das migrações internas no âmbito das modalidades migratórias paulistas e o tecido social urbano, a linha temática aprofundará o estudo acerca da mobilidade dos povos indígenas, focalizando dentro do fluxo Nordeste-São Paulo a migração indígena dos Pankararu e Pankarare, além da continuidade da mobilidade espacial dos Guarani em São Paulo.

Migração e Geração

Como parte do entendimento do atual processo de transição demográfica em São Paulo, a linha temática envolverá estudo acerca da relação e impactos da migração (interna e internacional) na transição demográfica e na reprodução das gerações.

Referências 

BAENINGER, R. Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações no século XXI. In: XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, ABEP. Caxambu, setembro/outubro de 2008.
BAENINGER, R. Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil. Rev. Inter. Mob. Hum., v. 20, n. 39, p. 77-100, jul/dez., 2012. Disponível em: <http://ref.scielo.org/q3b8pm>. Acesso em 10 de abril de 2016.
BRITO, F. População, espaço e economia numa perspectiva histórica: o caso brasileiro. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Econômicas, Cedeplar/UFMG, Belo Horizonte, 1997.
CUNHA, J. M. P. da. Retratos da mobilidade espacial no Brasil: Os censos demográficos como fonte de dados. Rev. Inter. Mob. Hum., v. 8, p. 29-50, 2012.
MARTINE, G.; CAMARGO, L. Crescimento e distribuição da população brasileira: tendências recentes. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 1, n. 1, jan./dez., 1984.
RIGOTTI, José I. Reflexões sobre as tendências da redistribuição espacial da população no Brasil, à luz dos últimos resultados do Censo Demográfico 2010. Ciência e Cultura, v. 64, p. 54-57, 2012.
VAINER, C.B. Políticas migratórias no Brasil: origens, trajetórias e destinos. In: Reunião dos Grupos de Trabalho da Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Campinas: Nepo/Unicamp, dez. 1991.