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Integrantes:
Roberta Peres;
Marília Calegari;
Rodrigo Sega.

Este tema busca aproximar o debate dos estudos de gênero aos estudos das migrações (internas e internacionais). Incorpora a dimensão familiar em todo o processo social da migração e não apenas no início dos projetos migratórios de homens e mulheres (Harbison, 2011), buscando identificar o papel da família nas trajetórias migratórias (Sanchéz, 2012), trazendo à tona a importância da compreensão das transformações dos papeis de homens e mulheres em seus projetos migratórios (Boyer, 2005).

A dimensão familiar na migração exige não somente o olhar voltado às relações de gênero e aos papeis de homens e mulheres em seus lugares de origem, mas também às renegociações e transformações desses papéis no âmbito da família ao longo de toda a trajetória migratória. Para tanto, os estudos de gênero tem contribuído significativamente à análise de fluxos migratórios, reforçando a ideia de diferentes experiências – masculinas e femininas – na migração, superando a figura assexuada do migrante (Harzig, 2003) e incorporando essas diferenças à seletividade migratória, às motivações para migrar, à composição dos fluxos e à dinâmica familiar. Segundo Mummert (2012), compreender as dinâmicas familiares, em suas formas rotineiras e cotidianas, é “como fotografar um alvo em movimento”, uma vez que as famílias se transformam continuamente. Segundo a autora, este estado permanente de efervescência é ainda mais evidente quando se trata de famílias envolvidas em processos migratórios. “Em processos migratórios, saem do foco da lente da câmera tanto os membros que se movimentam fisicamente através de fronteiras político-administrativas como seus parentes, que aparentemente permanecem imóveis” (Mummert, 2012, p. 151- tradução livre).

Uma vez tomada a migração como um processo social em todas as suas idas e vindas, em diferentes etapas migratórias, a família e as relações de gênero se fazem importantes em momentos distintos das trajetórias dos migrantes, indo além do papel de provedora dos recursos para a viagem, ou de controladora da seletividade dos migrantes dentro do domicílio. São muitos os papéis exercidos pela família nas trajetórias daqueles que migraram. Neste sentido, as noções “famílias migrantes” ou “famílias de migrantes” se fundem, apontando para as experiências transnacionais inclusive daqueles que não migraram (Sanchéz, 2012; Assis, 2011).

As informações advindas dos censos demográficos, visitas a campo, entrevistas qualitativas semiestruturadas e em profundidade permitirão acompanhar a dimensão familiar e as transformações nos papeis de gênero ao longo do processo social da migração de diferentes grupos sociais, modalidades migratórias e fluxos.

Referências

ASSIS, G. De Criciúma para o mundo: rearranjos familiares dos novos migrantes brasileiros. Florianópolis. Editora Mulheres, 2011.

BOYER, Florence. Le projet migratoire des migrants touaregs de la zone de Bankilaré: la pauvreté désavouée. Stichproben, nº 8, Special Issue on African Migrations. Historical Perspectives and Contemporary Dynamics, p. 47-67, 2005.

HARZIG, C. Immigration policies : a gendered historical comparison. In: MOROKVASIC, M.; EREL, U.; SHINOZAKI, K. (eds.) Crossing Borders and shifting boundaries. Vol I, Gender on the move. Oplanden, 2003.

HARBISON, S. F. Family Structure and Family Strategy in Migration Decision Making. In: DE JONG, G. F.; GARDNER R. W. Migration Decision Making: Multidisciplinary Approaches to Microlevel Studies in Developed and Developing Countries. New York, Pergamon Press, 1981. 394 p., p. 225-251.

MUMMERT, G. Pensando las familias transnacionales desde los relatos de vida: análisis longitudinal de la convivência intergeneracional.  In: ARIZA, M.; VELASCO, L. (coord.) Métodos Cualitativos y su Aplicación Empírica. Por los caminos de la investigación internacional. México: Universidad Nacional Autónoma de México-Instituto de Investigaciones Sociales/El Colegio de la Frontera Norte, 2012.

SANCHÉZ, L. R. Las Trayectorias em los estúdios de migración. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. (coord.) Métodos Cualitativos y su Aplicación Empírica. Por los caminos de la investigación internacional. México: Universidad Nacional Autónoma de México-Instituto de Investigaciones Sociales/El Colegio de la Frontera Norte, 2012.